Ribeira de Pena Online

Ribeira de Pena Online pretende divulgar informação e opinião sobre Ribeira de Pena e as suas gentes

Nome:
Localização: Ribeira de Pena, Portugal

Ribeirapenense por opção e devoção. Cidadão activo e participante na área da cultura e do desenvolvimento. Com opinião e ainda com uma réstea de esperança.

25 abril 2006

Geminação com Cabrália

INFORMAÇÃO

Confirmei no documento de geminação que está patente no Gabinete de Apoio à Presidência, na Câmara de Ribeira de Pena - a geminação entre Ribeira de Pena e Santa Cruz Cabrália foi celebrada a 25 de Abril de 1992 e assinada pelo então Presidente João José Alves Pereira e pelo Prefeito de Santa Cruz, Filogônio Santos Alcântara. Faz hoje precisamente 14 anos. Para que conste!

OPINIÃO - Impressões pessoais

Tinha-nos sido entregue um extenso programa de actividades para aquele dia 22 de Abril de 1991. Desde a formação do cortejo junto aos Paços do Concelho até à réplica da Celebração da primeira Missa no Brasil. Para nós, que nos deslocávamos pela primeira vez a Porto Seguro, a convite da Prefeitura e da organização das comemorações da descoberta do Brasil, o cumprimento do programa era sagrado. Não seria pois de estranhar a ansiedade causada pelas ligações aéreas - o avião só nos colocava em Porto Seguro às 08.30h e o programa era peremptório, as festividades começavam às 08.00h. No hotel, em Salvador, o Presidente e eu combinámos ir já preparados para a cerimónia, fazendo a viagem de fato e gravata. Eu tinha apenas um fato de fazenda, que transportara escrupulosamente em função da representação. Sofri com o calor dos trópicos, transpirei toda a viagem.
Em Porto Seguro saímos para a plataforma com bagagens volumosas. Perante os olhares curiosos de quantos admiravam o insólito de gente de fato e gravata. Era pressuposto que as entidades de Porto Seguro nos esperassem no aeroporto, para nos conduzirem às festividades programadas. Na sala do aeroporto, pequena e colorida, ninguém formal que nos parecesse esperar. Comentámos entre nós, indecisos, que ainda não teriam chegado. Alguns momentos depois dirigiu-se alguém perguntando se éramos os portugueses. Fomos apresentados ao Prefeito de Porto Seguro, a Vereadores e Secretários da Prefeitura. Estavam todos de calção, tshirt e sandálias. Explicámos que, como chegávamos atrasados, tínhamos resolvido vir já vestidos para a função. Foi-nos dito que não havia problema, que chegaríamos a tempo de tudo, e que faziam questão de que fossemos pôr-nos à vontade, pelo que nos levariam à pousada onde ficaríamos alojados.
Quando nos deixaram, prometendo retomar-nos meia hora depois, comentámos entre nós que não fazia sentido ir de fato e gravata às cerimónias. Por isso, alegremente, vesti uma camisa leve e umas calças práticas. Saímos da pousada para a Prefeitura de Porto Seguro descontraídos e deslumbrados com a paisagem que se nos deparava. E excitados pelo significado de, quase quinhentos anos depois, representarmos os portugueses de Cabral que aportaram àquelas terras.
Quando nos conduziram ao Salão Nobre da Prefeitura, fomos recebidos por todas as entidades impecávelmente vestidas nos seus fatos escuros. Envergonhados comentámos para o Comendador António Barros que nos conduzia - mas então disseram-nos para ir vestir qualquer coisa prática...
Alguém nos explicou mais tarde o que se havia passado. As individualidades que nos haviam recebido no aeroporto em calções e sandálias, vendo-nos de fato, haviam corrido pressurosas a casa para vestirem o único fato que usavam nas grandes solenidades. Para não destoarem...

24 abril 2006

Faz anos a geminação com Cabrália

INFORMAÇÃO

Celebrou-se dia 22 o dia das Comunidades Portuguesas. Que está na origem da geminação levada a cabo com Santa Cruz Cabrália, o local da descoberta de quinhentos.
Como protagonista do facto, achei por bem trazer aqui o assunto.
Tudo começou por um gesto de delicadeza. A comunicação social, discreta, deu conhecimento de que em Porto Seguro, no Brasil, se comemorava o dia da Comunidade portuguesa e a descoberta do Brasil, num gesto de afirmação da portugalidade e num município que afirmava a data como o seu feriado municipal. A Câmara Municipal de Ribeira de Pena enviou então um telex (ainda se lembram do que eram os telex?) manifestando a sua solidariedade e a partilha de sentimentos.
O promotor da iniciativa em Porto Seguro era então o Comendador António Barros, um fafense radicado em São Paulo que pugnava pela afirmação de Portugal e pela comemoração da efeméride da descoberta de Pedro Álvares Cabral. De visita a Portugal nas férias seguintes, veio a Ribeira de Pena e lançou o primeiro convite para uma deslocação ao local da descoberta. Foi assim que no ano seguinte houve oportunidade de o Presidente da Câmara se deslocar ao Brasil e estabelecer os primeiros contactos com o município de Santa Cruz Cabrália, que detém no seu território os locais da descoberta. Os contactos conduziram a uma aproximação que, no ano seguinte, produziu uma geminação, a primeira (e única) geminação do nosso concelho.
A razão da geminação era óbvia – tratava-se do local da descoberta do Brasil, com todo o significado que isso tinha – e tem – para a população portuguesa. Depois, havia uma estratégia. Aproximando-se os 500 anos da descoberta, era a maneira de colocar Ribeira de Pena no centro de um grande acontecimento histórico.
O ano 2000 veio, as comemorações foram discretas e Ribeira de Pena esteve lá numa delegação alargada de municípios portugueses. Foi pouco, mas não por culpa da estratégia, antes por culpa da vergonha de assumir projectos ambiciosos e também por culpa dos protagonismos políticos.

Para quem não sabe, que aqui fique bem presente – Ribeira de Pena está geminada com Santa Cruz Cabrália, no sul da Baía, Brasil, há mais de 15 anos. Feitos por agora.
Que ficou desta geminação? Uma rua em Cabrália com o nome de “Cidade de Ribeira de Pena”. Uma capela na Coroa Vermelha, local da descoberta, onde durante muitos anos figurou uma imagem de Nossa Senhora da Boa Viagem, oferecida por Ribeira de Pena (e mais tarde roubada, diz-se que pelos índios que tomavam conta da capela…). Um terreno na Coroa Vermelha oferecido pela Prefeitura de Cabrália a Ribeira de Pena para a criação de uma Casa de Cultura Portuguesa. Algumas relações de amizade que o tempo vai esvaindo.

Faz anos a geminação com Cabrália, mas duvido que tenha havido a simples delicadeza de um cartão de parabéns. Hoje, com a facilidade do correio electrónico e das comunicações telefónicas transcontinentais, duvido que os responsáveis políticos de ambos os municípios se tenham ao menos saudado.
Vou averiguar isso, sem grande esperança.

20 abril 2006

Publicação anónima surge em Ribeira de Pena

INFORMAÇÃO COM OPINIÃO

Chama-se “Penato atento” e tem a dimensão de uma página A4. Chega às mãos dos leitores através de email, mas alguns receberam-no fotocopiado pelo correio. Tem um aspecto gráfico cuidado e as marcas marginais de impressão revelam que a sua feitura se deve a quem domina as técnicas gráficas. Assume a sua periodicidade “quando calha”, mas o número 1 (“edição 1”) saiu em Março, a 2 em Abril. Subscreve-se no cabeçalho como “necessariamente necessário à DEMOCRACIA”.
Num texto intitulado “O porquê de existir”, à moda de editorial e referindo o facto do desaparecimento, quase total, da imprensa local, assume que pretende ser “esse órgão de denúncia, tão necessário às democracias de hoje”. Define-se assim, frontalmente, o propósito da iniciativa – a denúncia!
Denúncia de quê? Analisando os dois números divulgados, denúncia do executivo camarário e dos seus representantes. Se não vejamos: Notícia 1 -Agostinho Pinto, Germinal Rodrigues e Albino Afonso entregam de mão beijada lagar de azeite do Bucheiro (a propósito da deliberação da Câmara de entrega a um munícipe daquele espaço para a montagem de um café bar); Notícia 2 – Em 2004 a Câmara Municipal de Ribeira de Pena deu de beber aos seus residentes das piores águas em Portugal (referindo facto recentemente divulgado na Imprensa nacional); Notícia 3 – Rigor nos cumprimentos dos horários … mas só para os funcionários (cumprimento de horários não respeitado pelo presidente e vereadores); Notícia 4 – Germinal e Albino Afonso usam e abusam … com a conivência de Agostinho Pinto (sobre a utilização particular de viaturas municipais pelos vereadores da Câmara); Notícia 5 – Mercado Municipal é uma farsa (sobre “negociatas” de amigos na utilização do remodelado mercado.
Para além destes cinco textos, duas perguntas: uma sobre a razão porque serão necessários dois vereadores a tempo inteiro e outra sobre as horas extraordinárias de um fiel de armazém que é cunhado do presidente.
Temos, portanto, dois factos objectivos: o "Penato atento" nasceu para denunciar; o alvo óbvio da publicação é o executivo municipal.

Os autores do "Penato atento" consideram – e afirmam-no expressamente – que a sua intervenção é um acto cívico, necessário à democracia. Assumem, pois, um papel de vigilantes e de moralizadores. O que não seria de menosprezar não fora o facto de assumirem a sua vigilância e moralização atrás de um assumido anonimato. Que, no nº 2 reiteram ao afirmar que “…mesmo cobardemente, é preferível manter o anonimato".
E aqui reside, a meu ver, o grande telhado de vidro deste projecto. Os factos referidos na publicação são reais (os juízos de intenção implícitos, não passam disso). Porquê o medo de dar a cara? Um dos princípios da moral é, precisamente, assumir a responsabilidade dos seus actos. Assumir a responsabilidade dos actos é assumir as consequências que eles implicam. Assumir a responsabilidade dos actos é dar a cara.

Pessoalmente, vou continuar atento a esta campanha de denúncia. Mas recuso a sua pretensa cruzada moralizadora. Recuso a sua pseudo luta cidadã. Recuso terminantemente a sua máscara anónima. Atitudes de denúncia anónima têm nome – chamam-se delação. E eu não gosto de delatores. Mesmo que eles possam, de vez em quando, ter razão…

Roteiro Camiliano em Ribeira de Pena - VIII


CASA DO BARROSO
INFORMAÇÃO

A Casa do Barroso, em Bragadas, é uma curiosidade da arquitectura rural do século XVIII. Inserida numa povoação situada a meio da encosta norte do Tâmega, fronteira do Barroso, marca uma nota dissonante pela qualidade da sua fábrica. De facto, a Casa do Barroso ostenta, num canto escondido , um magnífico portal em granito, brasonado, e virada a poente e a sul uma fachada com cantaria fina, envolvendo uma pedra de armas de grande dimensão, que encima uma escadaria incompleta.
Que a Casa do Barroso não viu o seu projecto concluído é óbvio para quem ali se desloca. Qual o motivo para a interrupção das obras, não é fácil hoje descobrir. O que é certo é que Camilo, que por ali deverá ter passado quando viveu em Friúme, escreveu um belíssimo conto a propósito da casa, que intitulou “História de uma Porta” e que pode ser lido no livro “Noites de Lamego”.

Em Bragadas, a história que Camilo escreveu “virou” verdade. O poder da construção de mitos inerente à criação dos bons escritores... Mas será bom saber que o brasão esculpido no portal e no cimo da escadaria da Casa do Barroso pertenceu a Domingos Francisco Pena de Carvalho, natural de Ribeira de Pena, que a ele teve direito por carta régia passada a 25 de Setembro de 1756.

Roteiro Camiliano em Ribeira de Pena - VII


PONTE DE ARAME
INFORMAÇÃO

A Ponte de Arame, que liga a Ribeira a Santo Aleixo de Além-Tâmega, deverá ter sido construída no início do século XX. Há, pelo menos, testemunhos de que ela existiria já durante a primeira Guerra Mundial, e prestou serviço até aos nossos dias. Aliás, a sua utilização só passou a ser acessória a partir de 1963, ano em que se inaugurou a travessia do Tâmega através da bela ponte em arco de granito, construida cem metros acima. Hoje em dia é utilizada pelas populações ribeirinhas e motivo de curiosidade dos muitos visitantes, que nela encontram o encanto de outras eras.
Quando Camilo passou por Ribeira de Pena, a Ponte de Arame ainda não existia. A passagem do Tâmega fazia-se então através dos vaus, nas numerosas poldras e nos açudes e, sempre que o caudal era maior, nas barcas de fundo chato que transportavam pessoas, mercadorias e animais. Nos períodos invernais mais rigorosos, o rio era intransponível. Terá sido isso, aliás, que motivou as gentes da Ribeira e de Santo Aleixo a construir uma ponte pênsil que permitisse o trânsito de pessoas e bens ao longo de todo o ano.

E se a Ponte de Arame não é contemporânea de Camilo, ela é um local extremamente agradável para acompanhar a leitura de dois textos alusivos à travessia do Tâmega e escritos por Camilo. Um, através das poldras, figura na novela “Maria Moisés”. O outro, uma travessia de barca, é descrita no Sexto dos “Doze Casamentos Felizes”.

18 abril 2006

Roteiro Camiliano em Ribeira de Pena - VI


CAPELA DA GRANJA VELHA
INFORMAÇÃO

A Capela da Granja Velha, no lugar do mesmo nome, é um belo exemplar do barroco rural. Foi mandada edificar por um natural daquela povoação, emigrado no Brasil, de nome Lourenço Valadares Vieira, presbítero que exerceu no Brasil importantes cargos religiosos como o de Arcediago da Sé do Rio de Janeiro e Bispo do Pará.
Mandou edificar este templo na povoação da sua naturalidade para “homenagear os antepassados e para que a população tivesse um local condigno para assistir à missa”. Paralelamente a esta construção, estabeleceu um avultado donativo à Santa Casa da Misericórdia de Santa Cruz, em Braga, que tinha a obrigação de prover e sustentar capelão próprio para a capela.
Construída na primeira metade do século XVIII, esta Capela garantia uma das melhores tenças religiosas, sendo portanto cobiçado o seu lugar. Talvez isso justifique o facto de, na Granja Velha, existir em 1841 um padre de grande ilustração, com fama em toda a província, o padre Manuel Rodrigues, ou Manuel da Lixa, por ser natural da Lixa do Alvão.
A Capela possui uma fachada em que se destaca a pedra de armas do instituidor e, exteriormente, apresenta um pormenor insólito – o acesso lateral ao coro com balcão, tudo construído em granito. No interior possui um belíssimo altar em talha dourada, com um sacrário de grande qualidade e uma imagem da Senhora da Conceição, uma obra prima do barroco. O tecto do altar mor possui uma pintura ingénua, provavelmente do século XIX, também digna de nota.

Foi no lugar da Granja Velha que Camilo teve aulas com o padre-mestre Manuel Rodrigues.
A Capela da Granja Velha e o seu adro terão sido testemunhas de muitos dos momentos que Camilo passou em Ribeira de Pena.

16 abril 2006

Roteiro Camiliano em Ribeira de Pena - V

CAPELA DE NOSSA SENHORA DA GUIA
INFORMAÇÃO

A Capela de Nossa Senhora da Guia ergue-se numa das encostas do Alvão, sobranceira ao vale do Tâmega e é o palco de uma das maiores romarias do concelho.
Consagrada como padroeira do concelho em 1952, envolve a devoção das gentes de Trás-os-Montes e do Minho, que religiosamente, todos os 15 de Agosto, assistem à sua procissão e cumprem promessas ao redor da Capela.
A Capela que hoje existe foi construída na primeira metade do século XVIII, por devoção e voto dos senhores da Casa de Santa Marinha e da Casa do Mato, em Ribeira de Pena. Foi seu construtor o mestre Lucquas Rodriguez, da Galiza, no seguimento do modelo da Capela da Granja Velha, então recentemente construída.
É um belo exemplar do barroco rural, com um portal encimado pelo nicho em que figura, em granito, a imagem da Senhora da Guia. O pormenor arquitectónico mais significativo é precisamente aquele que encima a fachada, uma grande concha (vieira) em granito. Sabendo que o mestre construtor era galego, não é difícil conotá-la com a influência de Santiago de Compostela, cujo símbolo é, precisamente a concha.
No interior, para além do altar, recentemente restaurado, há que ter em conta o tecto, todo em granito, com caixotões sem figuração.
Camilo, que certamente assistiu à romaria da Senhora da Guia, integra-a no Sexto dos seus "Doze Casamentos Felizes".

15 abril 2006

Roteiro Camiliano em Ribeira de Pena - IV


A IGREJA MATRIZ DO SALVADOR
INFORMAÇÃO

A Igreja Matriz do Divino Salvador, que domina na sua majestade a vila de Ribeira de Pena, é um edifício construído na segunda metade do século XVIII e que se ficou a dever à benemerência de um emigrante ribeirapenense no Brasil, Manuel José de Carvalho.
A lenda conta que Manuel José de Carvalho, muito novo, terá ido para o Brasil, onde veio a fazer fortuna. Quando abandonou a terra natal, fez a promessa de, em caso de sucesso, mandar edificar uma igreja "como não houvesse outra em dez léguas ao redor". De como angariou fortuna, não ficou memória. O certo é que, em 1759, envia para Ribeira de Pena uma carta em que manifesta o desejo de mandar edificar uma igreja, garantindo o pagamento de todas as despesas, à excepção do carreto das pedras. A Igreja vem a ser edificada, tendo-se deitado abaixo a antiga Igreja do Salvador para aproveitamento da pedra. A primeira sagração vem a ser feita em 1793, já depois da morte de Manuel José de Carvalho, que nunca chegou a ver a sua obra.
A fachada manifesta ainda uma traça barroca, com alguns elementos rocaille.
Apresenta uma orientação invulgar a nascente e possui, por sobre o portal de entrada, um medalhão evocativo do fundador, ladeado de dois querubins com toucado de penas e um enorme nicho com uma imagem do Divino Salvador.
No interior, sóbrio mas imponente, é de referenciar o altar-mor, as guardas em madeira e os belos cadeirais confessionário.
Foi nesta Igreja que casou, em 18 de Agosto de 1841, Camilo Ferreira Botelho Castelo Branco, na altura com 16 anos de idade, com Joaquina Pereira de França, uma jovem de 14 anos, natural de Gondomar e residindo na povoação de Friúme com seus pais.
A Igreja está ainda ligada ao episódio com que Camilo justifica a sua saída de Ribeira de Pena.

14 abril 2006

Roteiro Camiliano em Ribeira de Pena - III


FRIÚME E A CASA DE CAMILO
INFORMAÇÃO

A povoação de Friúme, na freguesia do Salvador, foi uma das mais importantes do concelho ao longo do século XIX. Situada na margem esquerda do Tâmega, era atravessada pela estrada que, desde a Ponte de Cavez, contornava o rio e que, a partir de Friúme, começava a subir a encosta em direcção à Portela de Santa Eulália para, depois, se internar no Alvão em direcção a Vila Real. Esta situação privilegiada fez com que Friúme tivesse desempenhado um importante papel nas transacções comerciais da região, sendo entreposto de recoveiros que asseguravam a circulação das mercadorias para Guimarães e Porto.
Da importância de Friúme ao tempo em que Camilo a habitou – 1840/1842 – é testemunho o facto de a povoação possuir boticário (Macário Afonso) e tabelião (José de Mesquita Chaves). Para além disso possuía uma loja de nomeada, propriedade de José Martins dos Santos, comerciante no Porto que aqui se estabeleceu com a família, fugido ao Cerco da cidade nas lutas liberais. É neste enquadramento que Camilo Castelo Branco vai viver, entre um a dois anos da sua vida, depois de abandonar a Samardã. Alojado em casa de sua prima, Maria do Loreto, casada com o lavrador da Casa do Moreira, daqui podia seguir as aulas do padre mestre na Granja Velha.
E aqui encontrou as suas primeiras asas de liberdade. Asas que lhe permitiram percorrer as redondezas, pescando, caçando, namoriscando... Perto da Casa do Moreira, em Friúme, ficava a casa de Sebastião Martins dos Santos, que tinha uma filha fresca e provavelmente bonita, chamada Joaquina. No Tâmega, perto de Friúme, ficava a Ilha dos Amores, assim chamada a troco da utilidade. Não será de estranhar que isso, acrescido ao facto de casamento significar liberdade para Camilo (que assim poderia assumir a sua legítima por morte do pai) e cobiça para o sogro, tenha levado ao casamento dos dois jovens, Camilo então com 16 anos, ela com 14.
Em Friúme terá trabalhado com o tabelião Maximiliano Lemos mas, documentalmente, só está provado que tenha sido amanuense do tabelião José de Mesquita Chaves. Segundo ele próprio vem a declarar mais tarde, ali “aprendeu a jogar às damas e ao gamão”.

Hoje, perdida a importância como povoação, Friúme permite ainda observar alguns enquadramentos do tempo de Camilo e, acima de tudo, a chamada “Casa de Camilo”, local onde terá vivido com a mulher Joaquina e que depois de recuperada passa a ser um núcleo interpretativo da ligação do escritor a Ribeira de Pena.

13 abril 2006

Roteiro Camiliano em Ribeira de Pena - II


A PONTE DE CAVEZ
INFORMAÇÃO

O roteiro camiliano em Ribeira de Pena é constituído por sete pontos de visita, o primeiro dos quais pertence ainda ao concelho de Cabeceiras, mas que foi incluido por ser o palco de um conto de Camilo Castelo Branco relativo à sua estadia em terras da Ribeira.

Reproduzimos aqui os textos incluidos nas fichas de visita do roteiro, começando precisamente pela Ponte de Cavez.

"A Ponte de Cavez, na freguesia do mesmo nome, concelho de Cabeceiras de Basto, é uma imponente construção que remonta ao século XIV e que estabelece a ligação entre as duas margens do Tâmega naquela que é considerada uma das portas de Trás-os-Montes.
Adaptada no século XX às necessidades de circulação rodoviária, perdeu as guardas de pedra e uma pequena construção central onde a tradição dizia que se guardava o corpo do construtor, Frei Lourenço Mendes, atestada por uma inscrição que afirmava: “Esta é a Ponte de Cavez, aqui jaz quem a fez”.
Na margem direita, imponente na dimensão, surge a Casa da Ponte, uma edificação que apresenta as características de um solar do século XVIII, mas que inclui elementos arquitectónicos bastante mais antigos. Neste local, no final da Idade Média, terá existido uma gafaria, que aproveitava a Fonte de Águas Sulfurosas da margem esquerda para o tratamento dos leprosos.
Junto à Casa da Ponte está situada a capela de S. Bartolomeu da Ponte de Cavez, cuja romaria, a 24 de Agosto, é muito concorrida pelas gentes do Minho e de Trás-os-Montes, chamados pela virtude da água e pela fama do santo em tirar o demónio dos corpos.
Pelo local passava uma antiga via romana e ainda hoje é possível observar duas pontes daquela época nas ribeiras vizinhas, bem como um pedaço de calçada que atravessa o próprio pátio da Casa da Ponte.
A Ponte de Cavez e a Capela de S. Bartolomeu figuram em dois textos de Camilo: no conto “Como ela o amava!” das “Noites de Lamego” e como cenário do último acto da peça de teatro “O Lobisomem”.

São dignas de nota, num raio de 5 quilómetros, as povoações de Moimenta e de Cavez, ambas do concelho de Cabeceiras de Basto e Agunchos, no de Ribeira de Pena."

12 abril 2006

Roteiro Camiliano em Ribeira de Pena - I


INFORMAÇÃO

CAMILO E RIBEIRA DE PENA

Quando Camilo Castelo Branco desceu de Vilarinho da Samardã para Ribeira de Pena, atravessando as áridas paisagens do Alvão, seria um rapaz imberbe, com apenas quinze anos feitos. Convivendo com o drama da orfandade, integrado numa família para quem era mais um encargo do que alegria, Camilo começava a despontar para a vida, para o amor, para o sonho e para a ansiedade de possuir o mundo. Acredito que ao descer de Vidoedo e vislumbrar todo o vale do Tâmega verdejante, viçoso, a seus pés, tenha sentido arroubos de liberdade.
Esperava-o, lá no fundo, junto ao rio, sua prima Maria do Loreto, casada com um lavrador da Casa do Moreira, em Friúme. Em Friúme, Camilo conviveu com o boticário Macário Afonso que lhe ensinou a jogar “às damas e ao gamão”; com o tabelião José de Mesquita Chaves, de quem foi “amanuense” pelo menos durante um mês; com os fidalgos da Casa de Fontes com os quais organizou entremezes. Frequentou as aulas do Padre Manuel da Lixa, na Granja Velha “sujeito de não vulgar lição e bom velho, sobretudo”. Calcorreou rios e montes atrás de trutas e de coelhos. Casou na Igreja do Salvador a 18 de Agosto de 1841 com Joaquina Pereira de França. Camilo conta que saiu de Ribeira de Pena fugido “aos punhos de um morgado visigótico”, que ridicularizara em versos. Os punhos eram certamente verdadeiros, o castigo acredito que merecido, mas tudo não terá passado de um pretexto para iniciar novos voos, que uma terra pequena e fechada como Ribeira de Pena não permitiam ao génio do futuro romancista.
Que ficou de tudo isto? Páginas inesquecíveis onde a memória da Ribeira perpassa com grande riqueza de elementos. Personagens com o Santo da Montanha ou o Fidalgo Mendigo, delírios como os do Fantasma do Capitão-Mor de Santo Aleixo ou o enredo de “Como Ela o Amava!”. Essa pequena jóia da literatura portuguesa, a “Maria Moisés”, toda ela ribeirapenense. Seguramente, Ribeira de Pena não era terra para Camilo Castelo Branco. Mas a sua arte teria sido bem mais pobre sem o manancial humano que o escritor ali bebeu em dois curtos anos de vida.

Francisco Botelho
(texto publicado no desdobrável do Roteiro Camiliano de Ribeira de Pena, editado pela Câmara Municipal)