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Localização: Ribeira de Pena, Portugal

Ribeirapenense por opção e devoção. Cidadão activo e participante na área da cultura e do desenvolvimento. Com opinião e ainda com uma réstea de esperança.

13 fevereiro 2007

Ainda sobre tertúlias

OPINIÃO

O termo sempre me fascinou. Olhando para trás, ao longo da vida, não me lembro genuinamente de ter feito parte de nenhuma. Cheguei à vida adulta num período em que já eram raras e em que a pressa do dia-a-dia transformava os momentos de lazer e de encontro, institucionalizando-os em qualquer coisa de efémero e fútil. Uma por outra vez fiz parte de grupos que quase, quase foram tertúlias. Num momento próprio, eu mesmo lancei a ideia de uma tertúlia, não direi de fraca memória, mas seguramente fracassada.
A ideia do lançamento de uma tertúlia em Ribeira de Pena trouxe-me à memória uma série de momentos e sugeriu-me a partilha de algumas ideias.

Em primeiro lugar, não me parece que a genuína tertúlia seja uma instituição formal. Ou seja, que tenha regras e comportamentos precisos a observar por parte dos seus participantes. Uma tertúlia é, acima de tudo, um ponto de encontro, livremente assumido pelos que a integram e envolvendo componentes de lazer e de prazer. Sem objectivos precisos, sem prazo, sem rigidez nos participantes. Acontece pelo simples prazer de partilhar a companhia, as ideias, os sentimentos.
A tertúlia implica cumplicidade. Não unanimidade, antes a cumplicidade daqueles que se sentem unidos pelo prazer de partilhar e defender ideias, pelo sonho de ver concretizados os seus ideais. Exige continuidade, mesmo que não regular, um pacto virtual entre os participantes que se revêem num espaço físico concreto. À volta de uma mesa com copos e pratos de petiscos – ah, quem me dera ter vivido as tertúlias do século XIX em Paris, encharcadas em absinto!...
As tertúlias constroem-se vulgarmente à volta da reflexão de um tema. Um tema que une os participantes. Mas a reflexão é, por natureza, anárquica. Parecendo sem objectivo. Mas é no meio desta anarquia e desta desorientação que normalmente surge a ideia original, o sonho construível, o passo de gigante que torna velhas e esclerosadas as ideias consagradas.

Para os leitores que de há pouco tempo me acompanham, gostaria que soubessem que eu já tive, há uns três ou quatro anos, a veleidade de organizar um conjunto de reuniões mais ou menos regulares e subordinadas ao título de “Noites da Ribeira”. Convidei para elas um grupo de pessoas das minhas relações e amizade que, para além disso, tinham ou desempenhavam papéis significativos na vida de Ribeira de Pena. A ideia que propus a todos era, precisamente, conversar sobre o desenvolvimento de Ribeira de Pena e sobre o seu futuro. Com o objectivo de construir um corpo de ideias e de projectos que pudessem germinar mais tarde no seio das instituições.
Fizemos algumas reuniões dessas à noite, em Santa Marinha. A discussão foi fácil, as ideias muitas, o entusiasmo algum. Com a repetição, a ansiedade dos participantes começou a minar a simples reflexão. Num mundo pragmático, começou a reivindicar-se a acção, para lá da reflexão. O importante passou a ser a formalização de algo que institucionalmente pudesse dar sequência a algumas das ideias que foram surgindo. Quase todas elas de cariz económico, que o desenvolvimento para a maioria dos que ali se reuniram baseava-se nos cifrões. Chegou-se à decisão da constituição de uma Sociedade de Investimento, discutiram-se os nomes, sondaram-se os possíveis investidores.
Nessa altura, um romântico incorrigível como eu, não aguentou. Acabei de vez com as Noites da Ribeira que tinham deixado de me dar prazer e que como se realizavam em minha casa, apenas dependiam da minha vontade.
Por rebeldia, ainda fiz com alguns amigos mais íntimos uma nova edição da tertúlia. Que deixou de se chamar Noites da Ribeira para tomar o nome mais apropriado de Noites Inúteis. Com o compromisso de não darem origem a nada de concreto.

Vem isto a propósito da próxima reunião da Real Tertúlia de Pena na quinta-feira, para a qual fui convidado. Lá espero estar, acima de tudo para usufruir o prazer de partilhar com outros o amor à Ribeira. E para partilhar os sonhos que teimosamente ainda teimo em sonhar. Sem esperanças de nada mais do que usufruir o prazer do convívio. Minto, para além dessa esperança, outra levarei para o convívio – a de ver construir em Ribeira de Pena uma nova elite de pessoas capazes de pensar o território do concelho e de participar activamente na construção do seu desenvolvimento.