Ribeira de Pena Online

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Localização: Ribeira de Pena, Portugal

Ribeirapenense por opção e devoção. Cidadão activo e participante na área da cultura e do desenvolvimento. Com opinião e ainda com uma réstea de esperança.

13 outubro 2005

De Fortaleza

OPINIÃO

Do outro lado do Atlântico, em Fortaleza, para participar na ExpoBrasil de Desenvolvimento Local, manterei uma ausência da Ribeira que me penaliza em termos de informação.
Sei que alguns leitores se habituaram a encontrar aqui uma informação directa e mais ou menos actual. Não a terão por alguns dias.
Mas não custa nada entreter os visitantes do blog com notas de viagem. Sempre que puder, portanto, colocarei aqui notas sobre a minha passagem pelo Brasil. Que sirva a quem quiser.

11.Outubro / Brasil, Fortaleza, dia 1

Hoje é feriado no Brasil. Dia de Nossa Senhora da Aparecida e Dia da Criança segundo me informou o motorista de táxi, seu Juarez, cearense de gema ao volante do seu VW a gás natural. Nos cruzamentos, bandos de crianças abeiram-se dos carros, de mão estendida. Juarez faz-lhes uma pequena festa na cabeça, sem mais, enquanto eles se afastam pressurosos.
Seu Juarez conduz-nos ao centro de Congressos do Ceará, onde terá lugar a ExpoBrasil de Desenvolvimento Local. Parados num cruzamento, temos defronte de nós um imenso arranha-céus abandonado, estrutura toda em tijolo, assustador cadáver urbano. O motorista explica – “aqui no Brasil empreiteiro vai construindo, vendendo apartamento e gastando o dinheiro. Quando já não há mais abandona a obra e o prejuízo fica para os que pagaram os apartamentos”. Afinal um fenómeno universal, talvez aqui mais frequente. E os cadáveres imponentes são visíveis em Fortaleza. E mostram a péssima construção que por aqui se faz.
Com o semáforo aberto, o carro avança. De repente, o impacto e o choque. O carro que vem atrás acaba de bater no táxi. Aguarda-nos longa demora, é o que de imediato imaginamos. Seu Juarez sai do carro e vê os estragos. O condutor que bateu, num jeep robusto, começa +por dizer que não bateu. E de facto, o carro não apresenta uma beliscadura. Mas o táxi tem uma óptica partida e o para-choques amolgado. A conversa corre mais por silêncios do que por altercações. Vê-se o desagrado do culpado e a trentativa de se ver livre da questão, o mais depressa possível. Invoca argumentos: você travou de repente, eu respeitei a distância regulamentar, eu não bati. Mas a evidência é outra. Seu Juarez aponta a matrícula da viatura que lhe bateu. E, pelos vistos a identidade do condutor e a residência.
Grita alto: “patrão, vamos embora”. Pergunto-lhe – como se resolve uma questão destas no Brasil? Há seguro?
A resposta é clara. “Não, mais de 90% dos carros circulam sem seguro. A gente compra carro e depois fica sem dinheiro para pagar o seguro.” Então como vai resolver o assunto? “A gente resolve isto na base da conversa. Quando for a casa dele, se ele não aceitar pagar o prejuízo, então eu volto um dia e ponho o meu carro à frente dele e obrigo ele a bater-me. Ele vai acabar por pagar.” A justiça por mãos próprias.