Que futuro para a Feira do Linho?
OPINIÃO
Na sessão de abertura da última Feira do Linho, o presidente da Câmara referiu a necessidade de reformular o modelo, sob pena de virmos a assistir ao declínio daquele que tem sido o evento de animação mais marcante do concelho nos últimos anos. Para além da reformulação do modelo foi também referido o desejo de ver o certame autonomizado da Festa da vila.
Parece evidente que o modelo actual atingiu o limite das suas potencialidades e que será necessário proceder a uma análise cuidada do modelo e do sistema de implementação. O texto que se produz a seguir não pretende mais do que ser um contributo para essa mesma reflexão.
Pequeno historial
A Feira do Linho foi uma iniciativa lançada pelo executivo socialista da Câmara Municipal em 1999. Foi apresentada como uma feira centrada no linho e na tecelagem do linho, envolvendo outras componentes artesanais e dando relevo aos serviços e actividades locais, com cuidado especial na animação. No seu lançamento houve um grande cuidado na projecção nacional do certame, com atenção especial ao público do Porto e de Lisboa.
No último mandato da coligação PSD-PP, o certame foi mantido por se revelar uma iniciativa já afirmada e com evidentes potencialidades. O modelo foi então ajustado com a preocupação de envolver também produtos agro-industriais e actividades agrícolas relacionadas com o concelho e a região. Foi igualmente introduzido um novo espaço, uma praça da restauração que incluía a zona de animação musical.
Na última edição, agora encerrada, houve uma adaptação dos espaços, procurando concentrar os espaços passando os visitantes a ser obrigados a circular por todo o circuito de stands.
Que futuro para a Feira?
Da análise das edições anteriores e dos resultados das alterações que foram introduzidas será possível chegar a um modelo ajustado para o futuro. Partindo do pressuposto que a Feira do Linho é uma iniciativa plena de potencialidades e que deverá ser trabalhada como uma Feira de actividades económicas mas, simultaneamente, como um cartaz de animação e de projecção do concelho de Ribeira de Pena.
Comecemos então pelo modelo. Parece-me óbvio que a Feira se deve recentrar no linho e na tecelagem do linho. Isto não significa exclusividade, apenas a ideia de que a imagem e a consequente projecção do certame lhe deve vir da especificidade de ser um certame do linho. Nessas circunstâncias, deve ser francamente dinamizada a apresentação das artesãs do concelho. Mas poderá – e deverá no meu ponto de vista – ser projectado este núcleo do linho e da tecelagem com a apresentação de outros núcleos de artesanato do linho nacionais. Em colaboração com entidades que trabalham nesta área (refiro apenas a título de exemplo o CEARTE, o CRAT, alguns museus) poderiam ser apresentadas exposições cuidadas de outras manifestações nacionais na área do linho. Fazia também todo o sentido que a Feira integrasse um ou mais colóquios sobre o tema. Não teria já sido útil, por exemplo, um colóquio que divulgasse junto dos artesãos o estatuto de artesão recentemente criado?
Mas é óbvio que a Feira do Linho não pode deixar de ser uma montra das actividades do concelho. Os serviços, as actividades económicas, as actividades culturais e sociais deverão ser incentivadas à participação, constituindo o certame uma autêntica festa da vida concelhia. O sucesso desta componente poderá vir a marcar a continuidade do certame.
Não se poderá esquecer que o concelho de Ribeira de Pena tem uma marca fortemente agrícola, com uma componente florestal de enorme significado económico. Deverá assim este sector ser especialmente tratado, não só ao nível expositivo como ao nível da animação. A criação de colóquios sobre temas agrícolas faz todo o sentido pelo carácter de informação junto da população. E Ribeira de Pena deve, de uma vez por todas, assumir-se como o solar da raça maronesa, envolvendo na Feira actividades qualificadoras da raça. O Concurso da Raça Maronesa que vem sendo feito deverá ser potenciado com outras actividades no mesmo sentido.
Finalmente, a gastronomia será sempre um dos elementos mais mobilizadores para a visita ao certame. E o modelo da gastronomia deverá passar por pequenas tasquinhas com serviço de petiscos e bebidas, ao mesmo tempo que diariamente são servidas refeições com um prato tradicional da gastronomia local.
Uma componente que deverá ser reequacionada é, sem dúvida, a animação. Uma aposta séria deverá ser feita na animação de rua. O certame terá de ser percorrido por instrumentistas, por cantadores (a recrutar nos grupos locais) e mesmo por actores profissionais. E poderia ser pensado fazer diariamente, a uma hora certa, um pequeno cortejo etnográfico, juntando actividades agrícolas tradicionais ao artesanato local e à história do concelho. Para além disso, manter obviamente o espectáculo musical à noite, em espaço que possibilite uma assistência confortável, o que implica a montagem de um auditório.
E como os visitantes da Feira serão sempre famílias, deveria ser pensado um espaço próprio para parque infantil, proporcionando às crianças um conjunto de actividades que as entretenham.
Mas a feira deverá proporcionar aos visitantes alguns serviços complementares. Em primeiro lugar, e porque não se prevê a deslocalização da Feira para épocas que não o Verão, seria importante criar um sistema de vaporização em todo o recinto da Feira, que proporcione conforto aos artesãos presentes e aos visitantes. E não faz sentido que um certame onde se promove a venda de produtos não seja servido por uma caixa de levantamento Multibanco. E porque não um espaço com acesso à Internet? E o aluguer de scooters eléctricas para circulação no recinto?
Se a aposta na Feira do Linho for uma aposta séria, ela terá de envolver toda uma estratégia de marketing. Que terá de passar pela apresentação prévia do certame nas grandes metrópoles, de maneira a fazer chegar o nome do certame à comunicação social, à população interessada no artesanato e no linho, à diáspora ribeirapenense e a todo o público em geral.
Às faixas de estrada, sempre eficazes, poderiam ser acrescentados outdoors nas capitais de distrito das zonas norte e centro, por exemplo. Divulgá-la na imprensa escrita, na rádio e na televisão. E, ao actual cartaz e desdobrável promocional, poderia e deveria ser acrescentado o livro do certame, com informação detalhada sobre o concelho, os temas e os participantes da Feira.
Claro que as ideias aqui veiculadas implicam uma maior aposta financeira. Mas o problema que se coloca, de base, é precisamente esse. A Feira do Linho é – ou não é – uma aposta séria na projecção do concelho e na dinamização das suas actividades tradicionais? Se decidirmos que não é, basta mantê-la como está, ou mesmo deixá-la morrer. Se decidirmos que, pelo contrário, é uma verdadeira aposta, então há que fazê-la bem e dotá-la de todas as condições de se projectar a nível local, regional e nacional. Preparando-a e organizando-a com tempo, a partir de uma comissão organizadora eficiente e com poderes efectivos que possa estabelecer um programa, obter financiamentos e executar o projecto com qualidade.
E não me parece que passando a realizá-la fora da Festa da Vila, ela possa ser efectuada fora do mês de Agosto. É nessa época que temos o grande fluxo de visitantes e turistas na região, é nessa altura que estão em Ribeira de Pena os emigrantes. Outra data diminuiria irremediavelmente o público-alvo de um certame como este, o que considero fatal para o seu sucesso.
OPINIÃO
Na sessão de abertura da última Feira do Linho, o presidente da Câmara referiu a necessidade de reformular o modelo, sob pena de virmos a assistir ao declínio daquele que tem sido o evento de animação mais marcante do concelho nos últimos anos. Para além da reformulação do modelo foi também referido o desejo de ver o certame autonomizado da Festa da vila.
Parece evidente que o modelo actual atingiu o limite das suas potencialidades e que será necessário proceder a uma análise cuidada do modelo e do sistema de implementação. O texto que se produz a seguir não pretende mais do que ser um contributo para essa mesma reflexão.
Pequeno historial
A Feira do Linho foi uma iniciativa lançada pelo executivo socialista da Câmara Municipal em 1999. Foi apresentada como uma feira centrada no linho e na tecelagem do linho, envolvendo outras componentes artesanais e dando relevo aos serviços e actividades locais, com cuidado especial na animação. No seu lançamento houve um grande cuidado na projecção nacional do certame, com atenção especial ao público do Porto e de Lisboa.
No último mandato da coligação PSD-PP, o certame foi mantido por se revelar uma iniciativa já afirmada e com evidentes potencialidades. O modelo foi então ajustado com a preocupação de envolver também produtos agro-industriais e actividades agrícolas relacionadas com o concelho e a região. Foi igualmente introduzido um novo espaço, uma praça da restauração que incluía a zona de animação musical.
Na última edição, agora encerrada, houve uma adaptação dos espaços, procurando concentrar os espaços passando os visitantes a ser obrigados a circular por todo o circuito de stands.
Que futuro para a Feira?
Da análise das edições anteriores e dos resultados das alterações que foram introduzidas será possível chegar a um modelo ajustado para o futuro. Partindo do pressuposto que a Feira do Linho é uma iniciativa plena de potencialidades e que deverá ser trabalhada como uma Feira de actividades económicas mas, simultaneamente, como um cartaz de animação e de projecção do concelho de Ribeira de Pena.
Comecemos então pelo modelo. Parece-me óbvio que a Feira se deve recentrar no linho e na tecelagem do linho. Isto não significa exclusividade, apenas a ideia de que a imagem e a consequente projecção do certame lhe deve vir da especificidade de ser um certame do linho. Nessas circunstâncias, deve ser francamente dinamizada a apresentação das artesãs do concelho. Mas poderá – e deverá no meu ponto de vista – ser projectado este núcleo do linho e da tecelagem com a apresentação de outros núcleos de artesanato do linho nacionais. Em colaboração com entidades que trabalham nesta área (refiro apenas a título de exemplo o CEARTE, o CRAT, alguns museus) poderiam ser apresentadas exposições cuidadas de outras manifestações nacionais na área do linho. Fazia também todo o sentido que a Feira integrasse um ou mais colóquios sobre o tema. Não teria já sido útil, por exemplo, um colóquio que divulgasse junto dos artesãos o estatuto de artesão recentemente criado?
Mas é óbvio que a Feira do Linho não pode deixar de ser uma montra das actividades do concelho. Os serviços, as actividades económicas, as actividades culturais e sociais deverão ser incentivadas à participação, constituindo o certame uma autêntica festa da vida concelhia. O sucesso desta componente poderá vir a marcar a continuidade do certame.
Não se poderá esquecer que o concelho de Ribeira de Pena tem uma marca fortemente agrícola, com uma componente florestal de enorme significado económico. Deverá assim este sector ser especialmente tratado, não só ao nível expositivo como ao nível da animação. A criação de colóquios sobre temas agrícolas faz todo o sentido pelo carácter de informação junto da população. E Ribeira de Pena deve, de uma vez por todas, assumir-se como o solar da raça maronesa, envolvendo na Feira actividades qualificadoras da raça. O Concurso da Raça Maronesa que vem sendo feito deverá ser potenciado com outras actividades no mesmo sentido.
Finalmente, a gastronomia será sempre um dos elementos mais mobilizadores para a visita ao certame. E o modelo da gastronomia deverá passar por pequenas tasquinhas com serviço de petiscos e bebidas, ao mesmo tempo que diariamente são servidas refeições com um prato tradicional da gastronomia local.
Uma componente que deverá ser reequacionada é, sem dúvida, a animação. Uma aposta séria deverá ser feita na animação de rua. O certame terá de ser percorrido por instrumentistas, por cantadores (a recrutar nos grupos locais) e mesmo por actores profissionais. E poderia ser pensado fazer diariamente, a uma hora certa, um pequeno cortejo etnográfico, juntando actividades agrícolas tradicionais ao artesanato local e à história do concelho. Para além disso, manter obviamente o espectáculo musical à noite, em espaço que possibilite uma assistência confortável, o que implica a montagem de um auditório.
E como os visitantes da Feira serão sempre famílias, deveria ser pensado um espaço próprio para parque infantil, proporcionando às crianças um conjunto de actividades que as entretenham.
Mas a feira deverá proporcionar aos visitantes alguns serviços complementares. Em primeiro lugar, e porque não se prevê a deslocalização da Feira para épocas que não o Verão, seria importante criar um sistema de vaporização em todo o recinto da Feira, que proporcione conforto aos artesãos presentes e aos visitantes. E não faz sentido que um certame onde se promove a venda de produtos não seja servido por uma caixa de levantamento Multibanco. E porque não um espaço com acesso à Internet? E o aluguer de scooters eléctricas para circulação no recinto?
Se a aposta na Feira do Linho for uma aposta séria, ela terá de envolver toda uma estratégia de marketing. Que terá de passar pela apresentação prévia do certame nas grandes metrópoles, de maneira a fazer chegar o nome do certame à comunicação social, à população interessada no artesanato e no linho, à diáspora ribeirapenense e a todo o público em geral.
Às faixas de estrada, sempre eficazes, poderiam ser acrescentados outdoors nas capitais de distrito das zonas norte e centro, por exemplo. Divulgá-la na imprensa escrita, na rádio e na televisão. E, ao actual cartaz e desdobrável promocional, poderia e deveria ser acrescentado o livro do certame, com informação detalhada sobre o concelho, os temas e os participantes da Feira.
Claro que as ideias aqui veiculadas implicam uma maior aposta financeira. Mas o problema que se coloca, de base, é precisamente esse. A Feira do Linho é – ou não é – uma aposta séria na projecção do concelho e na dinamização das suas actividades tradicionais? Se decidirmos que não é, basta mantê-la como está, ou mesmo deixá-la morrer. Se decidirmos que, pelo contrário, é uma verdadeira aposta, então há que fazê-la bem e dotá-la de todas as condições de se projectar a nível local, regional e nacional. Preparando-a e organizando-a com tempo, a partir de uma comissão organizadora eficiente e com poderes efectivos que possa estabelecer um programa, obter financiamentos e executar o projecto com qualidade.
E não me parece que passando a realizá-la fora da Festa da Vila, ela possa ser efectuada fora do mês de Agosto. É nessa época que temos o grande fluxo de visitantes e turistas na região, é nessa altura que estão em Ribeira de Pena os emigrantes. Outra data diminuiria irremediavelmente o público-alvo de um certame como este, o que considero fatal para o seu sucesso.
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